A hora e a vez do protagonismo nas experiências de aprendizagem.
Eu bem que poderia começar este texto falando sobre a pandemia do Corona vírus ou sobre como todos nós que trabalhamos com educação estamos nos adaptando à onda de ensino remoto que avançou sobre professores e alunos nos últimos meses. Não vou. Já tem muita gente boa falando sobre essas questões web adentro. E há gente melhor ainda desenvolvendo na prática tudo que se anda falando por aí. Tudo isso em duas ou dez lives agendadas para daqui a minutos na Internet (risos).
Há quem esteja mostrando como se faz, há quem esteja fazendo, errando e consertando ao vivo pro Brasil ver e há os que estão querendo traçar o panorama da história das tecnologias aplicadas à educação agora, com o bonde andando. Tem rolado de tudo no cenário da educação nas últimas semanas. A sensação que tenho é de que passou um Nilo e um Amazonas debaixo dessa ponte e a gente mal conseguiu ver.
Todo mundo quer contribuir um pouco com sua expertise. Isso é bom. Mas, tem um detalhezinho que tá passando despercebido no meio desse furacão de ter que resolver os problemas de qualquer jeito: a escuta. Nunca fomos muito bons em ouvir os estudantes e agora simplesmente não temos tido tempo. Tenho visto nas redes muita gente brigando porque não concorda com o ensino remoto ou porque não acha justo pagar por ele, ou ainda porque ele dá um trabalho danado pra acontecer. Só não tenho visto o que têm para nos dizer os estudantes que há semanas participam de aulas remotas e sem alternativas.
Nesse contexto, surge nas minhas notificações uma mensagem do professor Allison Santos que já passou aqui pelo blog algumas vezes. Ele mostrava o que uma de suas alunas havia produzido como resultado de uma das atividades propostas por ele nesse período de aulas remotas. Era um desenho que apresentava uma releitura da obra Abaporu com umas pitadas de Salvador Dali que me deixou encantada e curiosa. Em poucos cliques já me vi conversando com Grazi Vasconcelos, essa pequena artista de 13 anos de idade, estudante do 9° ano do Centro Educacional Maria Santíssima da cidade de Ipojuca, litoral sul do estado de Pernambuco.
Allison é um professor versátil que atua do Ensino Fundamental até o Ensino Superior. Já participou conosco de várias formações do ProfLab e suas estratégias para praticar e estimular o pensamento criativo sempre nos surpreendem. Em tempos de pandemia, Allison é um dos professores que mais tem investido em criar experiências de aprendizagem e não apenas em transpor sua aula para uma sala de reunião por vídeo.
Apostando na autonomia dos seus alunos, o educador pernambucano sempre criou desafios, grande parte deles tomando como base o estímulo ao pensamento criativo e visual. Essa constante em sua prática pedagógica permitiu que a mudança de cenário, do presencial para o digital, não afetasse os processos de aprendizagem criativa dos seus alunos. “Pensei em uma atividade de releitura. Nela eles tinham que criar e se expressar através da releitura da obra de Tarsila do Amaral. Depois disso eles iriam postar a criação no Instagram para concorrer a prêmios. Irão receber quando tudo voltar ao normal. Agora eles estão produzindo a mil por hora.”, disse Allison em mensagem enviada pelo próprio Instagram.
Encantada com o que vi, fui procurar saber mais sobre essa história para registrar e mostrar para o mundo. Experiências como essa são importantes não só para destacar o excelente trabalho dos professores, como para dar voz aos estudantes e inspirar outras pessoas a fazer o mesmo. Da conversa que tive com essa jovem pernambucana de sorriso leve e olhos brilhantes, surgiu a pequena entrevista que reproduzo a seguir.
─ Preparada pra entrevista?
─ Acho que sim kkkk
Karla Vidal – Oi Grazi, tudo bem? Qual sua idade? Em que ano você está?
Grazi Vasconcelos – Eu tenho 13 anos, estou no 9° ano agora. Sou aluna do Centro Educacional Maria Santíssima.
Karla Vidal – O que você está achando de estudar e fazer atividades a distância e em casa, longe da escola?
Grazi Vasconcelos – No início eu achei que fazer atividades a distância ia ser um pouco difícil porque achei que não seria da mesma forma que ter e praticar atividades presencialmente. Mas, até que está sendo bem legal ter aulas e atividades em casa, pois estou aprendendo no meu ritmo e aprendendo muito. Posso tirar dúvida com os professores na hora que estou fazendo as atividades. Geralmente em casa eu não tinha um professor tirando as minhas dúvidas como eu estou tendo agora.
Karla Vidal – E você curte arte? Além de Tarsila do Amaral eu vi outras referências na sua linda obra. O que você anda estudando sobre arte?
Grazi Vasconcelos – Eu gosto de todo tipo de arte, seja música, dança entre outros tipos. Mas, o que eu mais gosto é de desenhar e colocar algumas referências em meus desenhos. Recentemente estávamos estudando alguns movimentos artísticos como cubismo, futurismo, entre muitos outros. Mas, o que eu mais gosto de praticar é o surrealismo, poder colocar referências que não existem para tentar remeter a algo da realidade.
Karla Vidal – Eu bem que vi o Dali ali no relógio!
Grazi Vasconcelos – Antes de fazer o rascunho do desenho eu dei uma olhada nos assuntos da unidade passada no qual estudamos sobre esses estilos.
Karla Vidal – Vi que você desenhou em algum app ou software. Qual você usou? Sentiu dificuldade? Acha que é uma ferramenta que qualquer estudante consegue usar?
Grazi Vasconcelos – Eu usei um App chamado “ibis Paint” no meu próprio celular e não senti dificuldade nenhuma em usar o aplicativo porque eu já uso ele há algum tempo. Acho que é uma ferramenta um pouco complexa para aqueles que não tem nenhuma experiência para usar esse tipo de aplicativo. Mas, é muito fácil. É rápido de aprender a usar.
Karla Vidal – Como têm sido as aulas remotas com o Prof Allison?
Grazi Vasconcelos – Tem sido bem legais, estamos aprendendo sobre a Semana da Arte Moderna. O que eu achei legal é porque fala de valorizar a arte brasileira e não sobre usar os conceitos de arte estrangeiros. Achei uma ótima forma de ensino com os slides que ele coloca na sala de aula online.
Karla Vidal – Teremos uma live do ProfLab sobre produção de carimbos com o artista Fábio Calamy. O professor Allison vai estar conosco e gostaria de saber se você topa participar?
Grazi Vasconcelos – Claro que sim?
E assim terminou nossa rápida troca de mensagens. Toda essa movimentação acontece graças a conexão que nasce entre professor e aluno quando se investe na aprendizagem a partir de experiências e com foco no protagonismo do aluno. Se pararmos para analisar, a experiência funciona tanto presencialmente como remotamente. A lição que tiramos disso é que, muito mais do que a plataforma, o que realmente importa é a experiência vivenciada. Se criar condições para estimular a criatividade, melhor ainda.
Em menos de uma hora, Grazi teve seu desenho reconhecido e, além de aprender algo novo junto conosco na live Carimbaê, vai ganhar o carinho e o respeito de todos que fazem parte da rede ProLab de professores desbravadores.
A imagem da Grazi publicada neste post teve autorização de sua mãe Nubia Valquiria da Silva.
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