O ponto de vista de uma criança
Acredito que exista uma só questão com a qual todos os pesquisadores do mundo concordam: o mundo muda. E nas últimas décadas o mundo tem mudado muito rápido. E quando se fala em mudança não devemos considerar apenas questões climáticas, novas invenções ou a tecnologia. Precisamos considerar as pessoas e os papéis que elas desempenham na sociedade.
A medicina mudou muito, a comunicação se transformou e a educação apenas variou um pouco. Não mudou tanto quanto deveria. Isso porque a educação praticada em diferentes lugares do mundo ainda está muito associada a um modelo de sociedade que ficou lá atrás. O pesquisador americano Jim Lengel descreve muito bem esse cenário no artigo intitulado Educação 3.0 que está disponível em português neste link: http://goo.gl/axSXkX
E é engraçado como muitos de nós observamos e reconhecemos essas mudanças em várias áreas, menos na educação. São muitos os fatores que turvam nossa visão, nos impedindo de ver e até mesmo de agir. Por isso a necessidade de reflexão contínua sobre novas práticas pedagógicas a fim de estimular novos olhares.
Há quem observe e reflita muito melhor que nós que estamos engajados nessa trajetória de mudança. Mas, muitas vezes esses agentes de mudança não têm sua voz ouvida e nem suas propostas consideradas. Para entender melhor, saber planejar e pôr em cena novas práticas pedagógicas é necessário dar voz a quem será beneficiado diretamente por elas. E não há nada melhor do que conversar com aqueles que vivenciam a educação todos os dias: as crianças.
Nós que fazemos o ProfLab ouvimos toda e qualquer opinião porque acreditamos na importância do diálogo e da troca de conhecimento. Foi assim que Ana Beatriz Araújo Gomes, a Bia, estudante de 9 anos de idade fez contato conosco para nos dar “uma aula” sobre como os professores podem transformar os seus métodos para tornar a aprendizagem cada vez mais envolvente. Ela nos enviou o texto e nós ilustramos para facilitar o compartilhamento. Não há edições, tudo foi publicado como foi enviado pela Bia.
E assim desejamos a todos um 2016 de muita criatividade e inovação!
6 comentários
Prof Marcelo Miranda · 7 de janeiro de 2016 às 20:07
É isso aí Bia! Os alunos precisam participar mais deste processo e criar seus próprios problemas, viagens, mundos para fazer do presente mais dinâmico e quem sabe um futuro diferente. Bjs querida!
Edna Maria Santana Magalhães · 8 de janeiro de 2016 às 08:37
O que Bia diz, de forma prática, é o mesmo que grandes pesquisadores da Educação pregam: levar em conta a realidade do aluno e apresentar-lhe de forma concreta os conhecimentos, dando-lhes a oportunidade de experimentar o novo ou o velho e, assim, reconstruir o dado e transformá-lo em aprendizados e conhecimentos para a vida. Paulo Freire, Emília Ferreiro, Magda Soares dizem isso há tanto tempo… Outros pesquisadores mais recentes mostram como as tecnologias deveriam ser consideradas importantes aliadas para a vida escolar, Confiram os trabalhos de Roxane Rojo, Vera Menezes, Carla Coscarelli, Luiciana Oliveira, Acir Karwoski… O que acontece então com o nosso modelo de escolas? Até uma criança sabe a estratégia para tudo dar certo! O problema é que fazer uma educação assim dá trabalho, retira os professores de sua zona de conforto, exige que toda a escola e a sociedade se abram para outras atividades pedagógicas e saibam como desenvolver potencialidades dos alunos… Precisa-se, portanto, de uma escola ativa, cujas salas de aula se abram para o mundo e o tragam para dentro ou, o melhor, seja o mundo a escola para nossas crianças. Não adianta reclamar de salários, de condições físicas ou outras….. Lembro-me de professores que nem sala de aulas têm e suas aulas são ricas em vivências e aprendizados….É isso mesmo, Bia! A escola precisa mudar, assim como o mundo e as pessoas mudaram! As crianças de hoje experienciam um mundo muito diverso do mundo em que se pauta o nosso modelo de EDUCAÇÃO. Os atuais indivíduos que ocupam os bancos escolares exigem ser educados com AÇÃO nova.
Alex Sandro Gomes · 16 de janeiro de 2016 às 07:38
Olá Professora Edna Magalhães (*). Eu adorei tuas palavras. São francas, diretas e precisas. Nossa cultura latina possui um hábito muito ruim com relação a apontar deifeitos nas pessoas e instituições. Muitas vezes tedemos a ser hipócritas e não falar mal de coisas que todos percebem estão erradas. Em teu comentário, você divide a responsabilidade por uma Educação melhor e mais ativa com toda a sociedade. Normalmente apenas os professores são responsabilizados. Eu concordo contigo de que há uma necessidade de mudança de toda uma sociedade para possamos vivenciar uma nova experiência de aprendizagem. Parabéns! O teu comentário aponta caminhos de forma franca e direta. Ele é um exemplo do diálogo produtivo e sem rodeios que necessitamos ter para lidar com os nossos problemas.
(*) http://lattes.cnpq.br/8584181314471380
Edna Maria Santana Magalhães · 21 de janeiro de 2016 às 17:48
É simples, Alex Sandro: é só prestarmos atenção no modo como as crianças aprendem tudo desde os primeiros dias de vida e vão se desenvolvendo dia a dia em suas diversas habilidades: observam, experimentam, repetem sem medo ou vergonha, (re)constroem, fazem diferente, inventam/criam… Se a escola fosse assim já imaginou? Um lugar de possibilidades mil! E se a sociedade valorizasse a infância? E se buscarmos a história da Infância nos diversos momentos da civilização, veríamos como as culturas mudaram a partir da valorização dessa, da compreensão de que a criança (o adolescente e todos os indivíduos em experiências escolares!) são seres de saberes e únicos nas estratégias que mobilizam para sua interação social e, claro, os constantes aprendizados, não só escolares. Esses precisam estar em contante diálogo com os outros aprendizados sociais. São vários os LETRAMENTOS necessários para uma vida em sociedade e como alavancar uns e outros? Como disse no texto anterior, isso exige muito trabalho e uma formação docente muito diferenciada da que temos hoje.
A Bia, a nossa criança provocadora, tem muito a nos ensinar, mas interessante que até ela já está contaminada pela cultura compartimentada em disciplinas escolares e da divisão das áreas do conhecimento.
Mas obrigada ´por suas palavras de incentivo. Trabalhei como professora de escola pública por 26 anos e aprendi muito com meus alunos a cada dia que entrei em sala de aula e olha que foram muitos os dias e horas despendidos nessa ARTE de SER e ESTAR PROFESSORA DE LÍNGUA PORTUGUESA! Aprendi com aquelas centenas de aluno que o objeto de ensino de cada professor é a LINGUAGEM. Portanto, para além das disciplinas escolares, o que cada professor tem é um objeto de linguagem que exige diferentes formas de ser (de)codificada e compreendida. São muitas as linguagens que habitam os muros escolares e muitas as linguagens que ainda estão fora dela…
Eu amava o meu trabalho-de-aprendiz-de-ensinar-experimentações-de-linguagens e, por isso, nunca tive uma falta nesse adorável ofício que abracei por vocação. Foram meus alunos que me fizeram sempre estudar e desenvolver pesquisas sobre o desenvolvimento das habilidades, das estratégias e das técnicas de leitura e de escrita.
Por isso, meu texto fluiu, pois cada palavra ali tecida/gravada está marcada por essa trajetória de trabalho e de estudo. Enfim, de prazer! Novamente, obrigada! Um abraço.
Jessica · 12 de janeiro de 2016 às 15:14
Bia, você é um sucesso! Dedicada, caprichosa, CRIATIVA.
Fico muito feliz em ver você cada dia fazendo mais descobertas e fazendo a diferença.
Um grande beijo,
Jessica. 🙂
Paulo André · 12 de janeiro de 2016 às 19:16
Muito bem Bia.
É ouvindo estas coisas que percebemos que estamos no caminho certo para mudar a Educação. Espero que seus professores consigam praticar algumas coisas que você disse.